Seja Criativo, Mas Não Exagere

No outro dia, tive em mãos um trabalho de papéis timbrados, cartões de visita, cartões postais e canetas. Era colorido, criativo e estimulante. Ou talvez deva dizer excesso de estímulo. Os meus olhos não sabiam onde se concentrar. Quatro fontes diferentes em diferentes áreas, seis cores diferentes e havia gráficos e texto em todo o lado. O que devia ter sido um papel timbrado em branco em que alguém seria capaz de escrever uma carta, parecia mais um ecrã de TV de uma rede de notícias transmitida com um widget de ações na parte inferior, outro de notícias no topo e um mapa do tempo ao lado. Foi simplesmente demais.

Isso fez-me pensar - por que razão um monte de ideias boas não é tão bom quanto uma boa ideia só? E como um designer se pode sentir livre para expandir a sua criatividade enquanto reduz o foco?

A abordagem de lançar as ideias todas e ver o que interessa, resume-se a uma sessão de brainstorming e um quadro branco. Não é uma boa abordagem se estiver a falar de mil folhas impressas em papel de linho. Então, em vez de pensar em termos de limitar as suas ideias, pense em deixar as suas ideias voarem, mas só numa fase inicial do processo. Por outras  palavras, quanto mais ideias malucas puderem surgir, melhor.

Stephen King, no seu livro On Writing, cita Sir Arthur Quiller-Couch como se escrevesse “Assassine os seus queridos”. É duro e não é fácil. Mas, por mais que se ame cada uma das ideias incríveis no quadro branco - os seus “queridinhos” -, é preciso livrar-se delas e, impiedosamente, escolher a melhor ideia para o seu cliente e para a marca, quer seja a mais alucinante das ideias ou não. 

Às vezes, o problema não é uma abundância excessiva de ideias criativas, mas uma carência. Todos nós já tivemos dias em que a veia criativa não estava lá. No entanto, já vi muitas vezes, designs ocupados e excessivamente elaborados, que nos fazem pensar que o designer lançou várias ideias e usou-as em demasia. 

Resista à tentação de lançar tudo e tentar distrair-se a si mesmo e ao cliente, do facto de que ainda não tem uma ideia vencedora. Nesse caso, volte para o quadro branco.

Mesmo que tenha várias ideias inteligentes, muitas delas num só sitio, não só ficam lotadas, como também sobrecarregam a mente e a memória de quem vê. Um logótipo ou design deve ser memorável. Um design que parece uma página de 'Onde está o Wally' não é fácil de reproduzir na memória de alguém. Ninguém será capaz de identificar algo que realmente capte a essência da sua marca, se ela estiver oculta ou se tiver que pensar muito e olhar de perto para a encontrar. Um design deve capturar a marca com uma imagem, um esquema de cores ou padrão quase único que o público irá reconhecer e associar. 

É contraintuitivo, mas o design mais simples envia uma mensagem complicada e com mais nuances do que um design com vários elementos. Em vez de distrair a mente, captura a mente e dá à imaginação do espectador algum tempo para pensar também. Se está a criar um design mais simples, uma boa maneira de começar de novo é fazer mais pesquisas sobre outras marcas no setor dos seus clientes. Estar em contato com a indústria vai ajudar a desenvolver uma abordagem específica desde o início, em vez de uma abordagem do tipo "tudo para todas as pessoas". 

Certamente quer que o seu design seja original, mas também é útil ter uma ideia do tipo de design e nível de complexidade ao qual o seu público está acostumado e pelo qual é atraído.

Se o nome da marca em que está a trabalhar for especialmente criativo, envolvente, rápido ou memorável, deixe-o fazer a maior parte do trabalho e encontre uma maneira simples, mas inesperada, de criar um design que faça o nome sobressair. 

Ter ideias é a parte divertida do design. Mas a satisfação vem quando esculpimos uma escultura elegante saída do monte original de ideias. Este processo de refinamento vale o esforço. A falta de foco no design pode-se traduzir numa falta de foco em geral, e nenhum cliente ou designer deseja estar associado à falta de foco. Se uma empresa ou um designer não consegue manter sequer o seu material de escritório organizado e focado, envia a mensagem a potenciais clientes de que a empresa ou o designer também não está focado no seu trabalho. Um design sofisticado e eficiente, por outro lado, envia a mensagem de que o pensamento complexo e o trabalho eficiente fazem parte da marca. E isso, é uma boa ideia!